segunda-feira, 11 de agosto de 2008

sobre as três partes envolvidas

na entrada, ele pensa.
ela me obrigou a vir à tal peça.
eu nem queria, mas tive de vir. sabe como é, um agrado aqui, outro acolá, e se consegue uma semana de sossego. ir ao teatro com ela deve me garantir alguns dias sem lavar a louça.
pessoas empoladas por todos os lados. tenho certeza de que ouvi o casaco de alguma madame rosnando para mim. odeio colocar terno. odeio colocar gravata. odeio, acima de tudo, colocar esses malditos sapatos velhos. tudo bem, é tudo pelo direito de colocar os pés cansados em cima da mesinha de café da sala.
com licença, com licença. desculpe senhor, esses são os nossos lugares. não, veja. bem aqui, no bilhete. o quê? fileira H? oh, perdão. com licença, com licença.
com licença, com licença. finalmente. não sei como a deixo me convencer a vir a essas peças. se eu tivesse que tropeçar em mais alguma barriga, surtaria. não mande eu me calar. estou falando baixo! "shhhh" o quê?! ah, perdão.
abre a cena com nada no palco, fecha a cena com celular tocando. nada.
abre a cena com nada no palco, fecha a cena com celular tocando. nada!
na coxia, o diretor se desespera.
maldição! tentemos mais uma vez.
abre a cena com nada no palco, fecha a cena com celular tocando. nada!!!
vamos, tente! não é possível que não haja ninguém no público com o maldito celular ligado. vamos, alguma musiquinha do gás, algum funk que seja! pelo menos aquele clássico "atende o telemóvel". de que adiantou todo aquele trabalho de pegar os números dos celulares de todos os que compraram os ingressos para ninguém atender?
e agora? a peça inteira era baseada nessa premissa. sempre tem de haver algum mal-educado que esquece o celular ligado.
ô, minha filha, continua tentando! continua tentando, senão é melhor cancelarmos agora toda essa porcaria!
no bolso, o celular luta para se controlar.
ah, não. agora não. por favor. tinha de ser agora?
toda vez que vamos ao cinema, ao teatro, a algum recital de poesia, esse infeliz esquece de me desligar ou deixar no silencioso, e toda vez alguém liga. ele não aprende nunca? maldito seja! estou cansado de passar vergonha, de ser xingado e vaiado. como se fosse eu o sem educação!
o que posso fazer? oh, deus! mais alguns toques e eu não aguentarei mais. a vontade é muito forte!
não vou, não posso, não quero.
não vou, não quero, não posso.
não posso, não quero, não vou!
ai, mas a natureza é muito forte. fui feito para isso! quem será o desgraçado ligando bem a essa hora? puxa vida, já são 11 horas da noite, isso não é hora para se ligar para alguém. deve ser a amante desse infeliz. sempre ligando nos momentos mais inoportunos. desiste, sua vaca!
não, o telefone é desconhecido. de certo, a oferecida está ligando de algum outro lugar. por que ela não desiste?
daqui a pouco começo a tremer. se isso acontecer, não resistirei mais, gritarei a plenos pulmões! filho-da-mãe, custava ter me desligado? não, não custava!
já sei, mandarei tudo às favas e chutarei minha bateria. isso, resolvo meu próprio problema. a partir de hoje, não dependerei mais desse imbecil que nem consegue seguir as regras básicas da etiqueta.
deixe-me ver, deixe-me ver. isso. aqui. só um chutinho, agora... foi.

5 comentários:

Paulinha disse...

Putz, agora entendi pq vc não atende qdo dou toquinhos no seu celular!! hahaha
=P

Bjones!

Lu disse...

Como eu queria que, nessas horas, meu celular desligasse sozinho.
;D
Beeijo

Gabriela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriela disse...

vou concordar com a lú (e só estou me referindo ao apelido por nem ao menos saber quem é.) que comentou: como queria que nessas horas meu celular desligasse sozinho.
e vou dizer mais uma vez, adorei.

um beijo.

E ta na hora de trocar o link do meu blog antigo para esse atual, né? :P
[http://sheisnotamystery.blogspot.com]