domingo, 17 de julho de 2011

sobre viagens de negócios

poligamia é uma daquelas coisas cujo próprio ato já deveria ser considerado punição suficiente. joão moura, popularmente conhecido como jomo, discordou durante anos desta afirmação. aos 23 anos, se casou com maria cláudia, sua primeira namorada, quando esta engravidou. ao contrário do que se pode imaginar em se tratando de um casamento motivado pela gestação, foram muito felizes por sete anos, com mais dois filhos pelo caminho, até que a chama pareceu se apagar. passou a chegar sempre cansado do trabalho, maria cláudia estava sempre com dores de cabeça, foi praticamente um milagre que didi, o terceiro filho do casal, pudesse ter sido gerado.

um dia, no entanto, tudo mudou radicalmente. jomo voltou de uma viagem de trabalhos carregado de presentes para todos. um video game para o primogênito, um carro de controle remoto para o filho do meio, três macacões do santos para didi e uma noite quente para maria cláudia, começando com as crianças com a babá, um jantar romântico em seu restaurante favorito e a superação de qualquer enxaqueca na cama - por quatro horas seguidas. ela não podia acreditar na súbita mudança de humor do marido, e nem estar tão feliz que nem reparou que suas viagens de negócios passaram a se tornar cada mais constantes e longas. afinal, jomo voltava sempre tão amoroso e dedicado que valia a pena as duas semanas por mês que ele tinha que passar longe de casa por causa de sem emprego como representante de vendas de uma fábrica de ligas metálicas. mal sabia ela que, em ribeirão preto, joão moura tinha outra mulher.

tudo havia começado como uma mera relação profissional. maria cristina trabalhava como secretária de um dos clientes de jomo e atraiu sua atenção durante um dos almoços de discussão de preços. era uns bons oito anos mais nova que sua patroa, bonita, ambiciosa e admirava aquele homem que vinha mensalmente conversar com seu patrão. saíram para jantar um dia e só deixaram o quarto dois dias depois, quando joão tinha que voltar pra casa. um ano depois, uma cerimônia pequena reunindo apenas os amigos mais chegados, no cartório mesmo, oficializava a união entre maria cristina rondón e joão de carvalho moura (de carvalho era o sobrenome de solteira da mãe de joão), que passou a ser conhecido nos círculos de conhecidos do casal como "joca", ironicamente.

enfim, durante uns bons três anos, a vida não poderia ser melhor para jomo/joca. conseguia levar bem sua vida dupla, afinal seu emprego realmente o forçava a viver nessa "ponte aérea" santos-ribeirão preto. sempre que chegava em casa, era recebido por amores e saudades, e ainda conseguia ir embora no exato momento em que começavam os atritos da convivência. vivia, então, como um convidado em seu próprio lar, onde fosse, e era tratado com toda a pompa por suas esposas. a vida não podia ser melhor para joão moura.

até o dia em que ele reparou que as coisas não eram mais como antes. suas mulheres, não imporando onde estivessem, se comportavam de forma irracional, temperamental, ditatorial e selvagem. conseguia fugir de uma, às vezes, sob desculpas de uma viagem imprevista e urgente, apenas para ser recepcionado por patadas, unhadas e lágrimas. jomo/joca havia conseguido, por anos a fio, intercalar o fenômeno da TPM de suas mulheres, de forma que nunca estivesse na respectiva casa quando o incidente começasse. por uma dessas ironias da natureza, o ciclo de suas mulheres, mesmo a a 430 quilômetros de distância, haviam se alinhado. agora ele não tinha de encarar apenas UMA mulher chorando, agredindo, xingando e esbravejando, mas um ataque conjunto e coordenado. isso, pois mesmo que estivesse longe, enfrentando a artilharia de uma, recebia os ataques da outra por celular, e-mail ou sms.

o pobre joão moura não sabia mais o que fazer. estava prestes a se entregar à mercê de ambas as fúrias e pedir por perdão, rezando para que a morte fosse rápida e indolor. nesse momento de fraqueza suprema, quando nenhuma conclusão parecia se aproximar e os ciclos não davam indicação de que se desligariam em um futuro próximo, jomo/joca conheceu sua resposta. joão moura, casado há dez anos com maria cláudia e há três com maria cristina, surpreendeu a si mesmo ao perceber que não teria outra solução - casou-se pela terceira vez.