quinta-feira, 20 de setembro de 2007

sobre a distância I


Snow Patrol - Set The Fire To The Third Bar

(feat. Martha Wainwright)

I find the map and draw a straight line
Over rivers, farms, and state lines
The distance from 'A' to where you'd be
It's only finger-lengths that I see
I touch the place where I'd find your face
My finger in creases of distant dark places

I hang my coat up in the first bar
There is no peace that I've found so far
The laughter penetrates my silence
As drunken men find flaws in science

Their words mostly noises
Ghosts with just voices
Your words in my memory
Are like music to me

I'm miles from where you are,
I lay down on the cold ground
I, I pray that something picks me up
And sets me down in your warm arms

After I have travelled so far
We'd set the fire to the third bar
We'd share each other like an island
Until exhausted, close our eyelids
And dreaming, pick up from
The last place we left off
Your soft skin is weeping
A joy you can't keep in

I'm miles from where you are,
I lay down on the cold ground
And I, I pray that something picks me up
and sets me down in your warm arms

I'm miles from where you are,
I lay down on the cold ground
and I, I pray that something picks me up
and sets me down in your warm arms

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

sobre pensamentos I - a trilha

e, como nada é pra sempre, seguimos no ritmo alucinante de quem tem um pneu furado.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

sobre feriados

a vida segue normalmente. todo dia a neura de seguir a rotina nos abate implacavelmente.
acordar, estudar, andar, jogar, sonhar, ganhar, exercitar, trabalhar, lutar, respirar, digitar, correr, viver, perder, acender, morder, ser, sentir, dirigir, fingir, atingir, parir, fugir.

fugir. fugir finalmente para longe, para todo o sempre, nem que por apenas um minuto. é importante que no meio do caos da rotina consiga-se fugir. ou isso, ou ficamos loucos. fugir num feriado, reunindo os amigos para aquela escapada que nos garantirá a sanidade ao mesmo tempo em que a anula. fugir para longe, para o meio do mato se possível. se não for possível, para um sítio distante de todo esse ambiente urbano que nos afaga e nos sufoca.

em carros, guiando pela estrada, se pode sentir o momento exato em que já não se é tanto um só, mas se é todos. em que todos querem apenas abstrair a vida, vivendo aquele momento insandecidamente embebido em álcool, de preferência.
lá chegando, é importante constatar a total ausência de água pela casa, até mesmo na piscina. também se deve sair para comprar gelo, afinal a geladeira com a qual todos contavam, inexiste. por fim, coloca-se a cerveja num imenso balde para gelar, quem sabe assim a noite começa.
e começa. logo as brincadeiras têm início e o nível de sangue na corrente alcoólica de todos baixa drasticamente.
sete e múltiplos de sete. catorze! lá se vai a primeira dose de vodka. 56 é múltiplo de 7? é! então bebe.
as perguntas correm soltas, não se pode respondê-las. a cada pergunta emenda-se uma nova, é isso? isso mesmo...xiii. bebe!
há sempre aquele que resolve pegar no pé de alguém, principalmente se isso puder causar o maior mal-estar possível. felizmente, a benvinda ebriedade já chegou há tempos e se juntou ao grupo. ninguém liga.
todos gritam e falam simultaneamente. todos se escutam e ninguém se ouve, ao mesmo tempo que a música vinda do porta-malas de um dos veículos atinge seu máximo volume.
finalmente, alguem obtém o privilegio de ter a prioridade sobre o último gole de vodka.
sirenes na porta e a convidada temida mas indispensável se mostra presente. pelo menos, sua presença é passageira e a polícia vai embora depois de pegar todos os dados de uma das poucas que conseguiu a proeza de se manter razoavelmente sóbria. isso no portão, pois lá nos fundos o grupo de bêbados tenta um improvisado jogo de queimada, com latinhas amassadas demarcando territórios.
sob a ameaça de uma agradável noite na prisão, todos entram à casa e começam um jogo de regras complexamente simples, no qual quem fizer o primeiro par de três cartas vence.
o sono finalmente começa a ganhar força e deposita seu peso sobre as pálpebras de alguns. os que resistem, decidem ir à cidade, para o maior rodeio minúsculo de uma pequena metrópole rural.
no dia seguinte, o tom é o mesmo, acrescido do calor trazido pelo sol tão brilhante. mais cerveja e gelo, por favor. a piscina vazia ri da cara de todos e a piscina do vizinho, tão limpa e reluzente, olha só, sorri. o carrasco solar aflige, e não se vê outra saída a não ser procurar refúgio sob as águas contidas passando o muro da casa ao lado.
o líquido transparente voa para o espaço a medida em que os corpos furtivamente mergulham, procurando fazer o maior barulho possível no meio do silêncio obrigatório de quem está fazendo algo ilícito.
como saco vazio não pára em pé e nem alça vôo sobre as savanas, todos se fartam com o maldito pão seco abençoado pelas fatias sagradas da mortadela. jesus cristo, aquele que se sacrificou pelos nossos pecados, está lá e, com sua estatura modesta, grita a plenos pulmões que a esbórnia não é mais loucura, é esparta.
vencido o calor, uma nova brincadeira é iniciada. resolvem brincar de carrinho. mas deus me perdoe se forem carrinhos daqueles da infância. agora são todos automotores puxados por cavalos nem sempre muito potentes. um dos jovens que, coitado, ainda nem mesmo conhece as belezas bíblicas carnais, perde sua virgindade (apenas aquela atrás do volante) e mostra mais habilidade até mesmo do que aqueles que já suaram para comprar suas habilitações.
finalmente, não se tolera mais a fome e uma última incursão à cidade é indispensável. vestidos a caráter, invadem as ruas causando espanto na irriquieta população local. uma pizzaria é agraciada com a sua presença. na telinha da tv, a seleção brasileira de futebol dá show em cima dos estadunidenses. três pizzas e duas cocas depois, a santa ceia se encerra e é necessário começar a articular a partida.
a casa lavada com o pouco d'água contido no tanque, o sono espantado após uma bela soneca e todos estão em seus assentos novamente. o destino é são paulo. o destino é suas próprias vidas, marcadas com o que vier pela frente.
infelizmente, nada é certo e este grupo irá se separar. um deles irá partir para o outro lado do globo em breve e esta foi uma mais que merecida despedida. separados, mas unidos para sempre, pois, mesmo que a memória falhe com os amores e o coração se esqueça das lembranças, ainda terão, gravados para sempre, os filmes desta incrível família que se formou em tão pouco tempo.
e eu, tão humildemente que vos falo, tenho orgulho e me sinto honrado de poder dizer que faço parte dela.

acredito que existem dois tipos de pessoa neste mundo: as que existem e as que vivem. as que existem se prendem às suas vidinhas tranqüilas, recatadas e retilínias. sua maior preocupação é se a salada será de tomate ou se seria ousadia demais colocar também algumas folhas de alface. as que vivem têm formas indefinidas que inundam suas vidas. em suas biografias, contradições, antíteses e paradoxos jorrariam das páginas e agarrariam o leitor pelo colarinho, agitando-o de tal maneira que ele mal veria a hora para ter o mesmo. enormes trechos de páginas em branco, como que redigidas por um escritor ébrio e são, que teve tempo para expressar as pausas que infestam suas vidas. na capa, estampados em letras garrafais estariam os dizeres: amor e saudade. talvez esta fosse a única parte do livro que não entraria em conflito consigo mesma. isso porque a saudade é a forma mais leve e carregada do amor sadio. na contracapa, uma única ilustração. a de uma mochila de viagem totalmente carregada de experiências, boas e más, deixada para trás após uma vida completa.

enfim, o que seria da vida sem suas pausas e suas contradições? acima de tudo, o que seria da vida sem a saudade?



*este texto é dedicado a todos que estiveram no infame sítio em boituva. obrigado por campartilharem tantos momentos juntos. e, mayara, que sua viagem seja tudo o que você quer, e tudo aquilo que nós mais lhe desejamos.

sábado, 8 de setembro de 2007

sobre a felicidade

lucas era o príncipe e rei de seu próprio reino. seu reino era sua Vida. ele era juíz, júri, carrasco, povo, clero, nobreza e burguesia. era governante de si mesmo.
lucas era um garoto honrado, nobre até, um grande amigo. sua vida caminhava segundo sua própria vontade. infelizmente, nem tudo é perfeito. apesar de possuir inúmeros amigos verdadeiros, estes não podiam deixar de vê-lo como alguém um tanto ignorante. nas rodas de conversas, ele nunca sabia as últimas novidades ou havia lidos as mais novas críticas culturais/políticas/econômicas. mesmo assim, sua ausência, quando ocorria, era fortemente sentida no grupo.
não escolhia seus livros por ordem dos mais respeitados críticos literários, mas sim pelas suas palavras. não ouvia canções de bandas porque haviam vendido o maior número de discos, ouvia cada acorde como se fosse único. não admirava os filmes pela sua bilheteria, se encantava realmente frame a frame. até mesmo as árvores que optava para se abrigar sob as folhas não seguiam padrões, eram escolhidas puramente por sua beleza ou pela qualidade do ar que liberavam. as garotas com quem saía muitas vezes não agradavam esteticamente a todos de seu grupo, afinal, não era o sexo que procurava, mas a satisfação de encontrar alguém com quem pudesse se sentir feliz, verdadeiramente feliz, nem que apenas por um segundo.
enfim, sua vida, seu reino, não eram compreendidos por aqueles a quem se pode chamar de seus amigos. de qualquer forma, ele era incapaz de perceber a estranheza que provocava entre seus conhecidos. talvez fosse exatamente por isso que lucas era o mais realizado de todos. talvez, isso nem mesmo ele sabia. nem mesmo eu, que tenho me mantido na humilde posição de locutor em terceira pessoa até agora e me vejo obrigado a tomar a posição da primeira pessoa, posso dizer se lucas era ciente de sua própria ignorância, sua felicidade.
digo apenas que ainda tenho a honra de conhecer lucas, um jovem que caminha incompreendido pelas ruas, com a cabeça erguida, sustentada pela sabedoria do seu conhecimento de absolutamente nada.