sexta-feira, 20 de agosto de 2010

sobre o dia em que conheci a verdade

outro dia fui numa dessas lojas de verdades. você sabe, aquelas que vendem as coisas nas quais gostaríamos de acreditar.

conceito curioso, esse. gostaria de conhecer o fundador da primeira representante do setor. deve ser um sujeito dos mais interessantes.

enfim, entrei sem um desejo específico. havia marcado de encontrar uma amiga nas redondezas e, enquanto esperava, resolvi dar uma olhada no que tinha de novo.

a loja, muito bem arrumada com sua decoração moderninha, não estava muito cheia. "mas é que ainda são apenas três da tarde, meio da semana. você precisa ver isso aqui depois das sete horas, quando o pessoal sai do expediente. perto das festas de fim de ano, então! não dá pra passar pela porta...", foi o que me contou a vendedora, quando questionada sobre o baixo movimento.

expostas em longas prateleiras metálicas presas às paredes, artigos dos mais variados, com preços que iam do mais mundano ao exorbitante. logo na parte da frente, os produtos em promoção. coisas como "nunca fui corno", "eu lavo essa louça mais tarde" e "um chocolate a mais não vai fazer diferença" sofriam de uma grave falta de prestígio, evidenciada pelos poucos reais cobrados, alguns por falta de procura, outros por uma oferta em demasia.

mais adiante, encontrei maior variedade. diálogos inteiros à venda, cada qual com a sua verdade pessoal imbutida, alguns de tamanha originalidade que surpreendia que fossem levados a sério. "é, ele não estava olhando para ela. deve ser esse maldito torcicolo, outra vez. inferno, já é a quinta vez só essa semana!"

minha curiosidade aumentava a cada segundo passado. logo não aguentei mais e retornei à vendedora. "nosso produto mais caro? só um segundo", e me guiou a um pequeno embrulho localizado perto da caixa registradora.

sobre o papel dourado e empoeirado que envolvia o produto, liam-se as palavras "ele(a) me ama".

aquilo me tocou profundamente. fazia sentido. algo que poucos gostariam de ter de comprar, mas que, quando preciso, qualquer preço seria aceito.

enquanto chegava a tais conclusões, olhei rapidamente meu relógio e percebi que havia perdido a noção do tempo e estava atrasado. assim, corri imediamente para completar minha compra e fui de encontro a minha amiga, muito contente por finalmente acreditar que tamanho não é documento.

11 comentários:

Gabriela disse...

Gênio!

V L O disse...

qualquer preço seria aceito pra conseguir comprar o "ele(a) me ama"? Se for qualquer preço, então ele não é necessariamente o produto mais caro da loja. #aloka

V L O disse...

e o final "tamanho não é documento" soou como piada hehe

Thomé Granemann disse...

Muito bom César, mesmo!

Na minha humilde opinião, um dos seus melhores textos...

A verdade dói né, meu caro. =D

abraços

Luisa Nucada disse...

HAHAHAHAHAHHA
eu tbm acredito nessa verdade, a do tamanho!

Patricia Pamplona disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patricia Pamplona disse...

quase chorei ;~~
mas muito bom césar, adorei e concordo com o granemannrosa, apesar de não ter lido todos os seus posts, foi um dos melhores que eu li :)

Cacau disse...

ótima. montar uma verdade é o passatempo dos confusos. um beijo, lindão.

Ágatha disse...

é incrível como nunca me arrependo de vir aqui ler

Geh Duarte disse...

O link do sobreovazio está nos meus favoritos, obviamente. Um texto melhor do que o outro, parabéns!!!

Seu Oswaldo disse...

"Muito bom, fantástico, maravilhoso!"
(R$.10,00)