terça-feira, 14 de agosto de 2007

sobre histórias e amores

e há coisas que realmente passam. passam, e não voltam.

marcos, vamos chamá-lo de marcos, outro dia percebeu isso súbita e drasticamente. andava pela rua distraído a pensar e a conclusão lhe atingiu com tal força na face que lhe quebrou um dente e lhe deixou um calombo do tamanho de um punho na testa. infelizmente, não posso afirmar categoricamente se as contusões foram resultado do impacto da percepção ou do impacto de um enorme poste de concreto que fora posicionado estrategicamente naquela parte da rua apenas para acrescentar um pouco de humor a esta história. de uma maneira ou de outra, o que nos importa é que, recobrado os sentidos, marcos só conseguia pensar naquilo.
ao chegar em casa e se livrar agilmente dos braços preocupados da mãe - "que raios você andou fazendo lá fora?" - marcos se dirigiu diretamente a seu quarto, onde se trancou para poder pensar com maior segurança sobre o assunto.
não, definitivamente não atravessava uma onda de sorte com as mulheres. apesar de jovem, já havia amado imensamente duas delas. o relacionamento com a primeira tinha terminado mal. assim marcos pensava. mas falaremos dela mais tarde. o que nos interessa por ora é a segunda.
eu falava que marcos não atravessava uma onda de sorte com as mulheres. menti. quero dizer, não menti, equivoquei-me. marcos atravessava uma onda de azar era com o amor. mulheres nunca lhe foram problema.
enfim, havia essa segunda garota. seu relacionamento com ela havia terminado... bem, tal relacionamento nunca havia nem ao menos começado. entendem? eles estiveram juntos, claro, mas sempre fora "eu E você", nunca "nós".
marcos havia passado meses tentando entender o que dera errado. isso, talvez nem mesmo eu possa lhes dizer. sabe-se apenas que ambos seguiram suas vidas, separados. ele certamente seguia a dele, mas seu pensamento, de vez em quando, se perdia por estes trajetos e ele apenas permitia que fosse. não havia depressão, nem mesmo tristeza ou raiva. havia apenas decepção.
o futuro lhe aguardava, ele sabia disso. contudo, olhar pra trás era inevitável. e pensava nas coisas que lhe acontecera, nos caminhos que havia percorrido para chegar até ali. e se lembrava dela. não, não da segunda; da primeira.
e foi numa dessas lembranças que encontrou a conclusão que lhe fez trombar estrondosamente com um enorme poste de concreto que fora
posicionado estrategicamente naquela parte da rua apenas para acrescentar um pouco de humor a esta história, mordendo a língua e perdendo uma lasca do dente da frente, o que lhe causaria um chiado na fala que só seria resolvido anos mais tarde, quando finalmente pôde pagar um dentista decente com seu salário medíocre.
eu havia dito, havia dito e repito, que ele pensava que seu primeiro relacionamento verdadeiramente amoroso tinha conhecido um fim amargo. bem, já não pensava mais nisso. na verdade, olhava agora com carinho por cima do ombro para recordações tão antigas. percebia que podia ver o exato momento em que havia descoberto o que é realmente se preocupar com alguém de forma completamente altruísta. preocupar-se por se preocupar, sem esperar algo em troca. e como era bom tal sentimento. e como ele gostava de gostar tanto de alguém.
marcos se levantou de sua cama com um salto e esqueceu da decepção, e também de seus medos, e também de suas preocupações, e também de seus problemas.
decidido e impulsionado pela força que o amor que outrora sentira e que tudo que mais queria agora era sentir novamente, marcos abriu a porta e foi viver. viver uma vida nova, uma vida dos destinos que virão, sem lugar para o passado.
isso, pois percebia que há coisas que realmente passam. passam, e não voltam.










mas, e se voltassem? ah, se voltassem, meus caros, eu não estaria aqui para lhes contar esta história. estaria aqui para lhes contar uma história sobre marcos, o garoto que encontrou a felicidade cedo demais e não soube o que fazer com ela. de uma maneira ou de outra, esta seria exatamente a mesma história, não é mesmo?

2 comentários:

Gabriela disse...

eu sempre gosto dos seus textos :) legal, legal.. gostei deste também.

beijo, dear.

Gabriela disse...

esse meu blog sempre foi meio particular, poucas pessoas sabem dele. mas ok, agora que sabes pode visitar :)
não que eu atualize muito, maaas...

beijo, pai