terça-feira, 14 de outubro de 2008

sobre o jogo

eu?
sempre acreditei no amor. no amor e nessas outras coisas bonitinhas e coloridas que se mostram nos filmes americanos de mulherzinha e nas novelas brasileiras, não mais tão de mulherzinha assim.

minha vida era boa, não tinha muito do que reclamar. o dinheiro ficava curto no final do mês, meus sanduíches ficavam cada vez mais preguiçosos e a poeira se acumulava nos cantos da minha casa, mas eu vivia como queria, quando queria, da forma como queria.

eu estava na faculdade, bicho. eu estava morando sozinho, bem longe de casa. tinha a rotina que sempre desejei. fazia meus próprios horários. chegava bêbado altas horas da madrugada sem ninguém me encher o saco a respeito. faltava nas aulas sem peso na consciência nem ter que inventar desculpas. levava quem eu quisesse para "passar a noite" e não tinha que me preocupar com a cara de desaprovação na mesa de jantar no dia seguinte.

e é óbvio que eu tinha de conhecê-la. era a guria mais linda a apaixonante que eu já tinha visto. caí de quatro, literalmente. não havia outra explicação. eu estava perdidamente, loucamente, idioticamente apaixonado pela carol, uma colega da faculdade que eu cursava.

porra, tive das minhas experiências no passado, me apaixonei, quebrei a cara, traí, me fodi, segui em frente e, de verdade, sempre gostei de tudo isso. o problema não era o "estar apaixonado" era mais o "por quem".

é, eu caguei no saco mesmo, mas como eu podia imaginar que pegar a dani, moreninha que me dava mole desde o primeiro dia de aula podia foder minha vida de tal maneira? como eu poderia imaginar que ela era a melhor amiga da mulher da minha vida?

enfim, eu não podia. mas falta de imaginação nunca é justificativa nessas coisas de relações.

por ter ficado com a dani eu estava interditado para tentar qualquer coisa com a carol. está certo, talvez não qualquer coisa, mas algo sério, significativo, duradouro.

como passar por essas barreiras sociologicamente naturais? a resposta me causou mais problemas do que a própria pergunta.

eu, osmar de oliveira netto, gênio, fui pedir conselhos com meu chegado, meu parceiro, meu melhor amigo carlos mangioli, também chamado carinhosamente de carlinhos.

malditas ligações que acreditamos serem eternas e fiéis.

carlinhos saberia o que fazer. era feio que doía, mas tinha jeito com as mulheres, fazer o quê. estava sempre acompanhado por alguns dos melhores exemplares femininos, onde quer que fôssemos. se havia alguém que poderia me ajudar, se apiedar desta pobre alma, colocar-se no meu lugar, seria ele. e não é que ele aprendeu rápido como se colocar no meu lugar? calma, estou colocando o carro na frente dos bois, aqui.

ele logo se debruçou sobre meu caso e, juntos, bolamos diversos planos e estratégias para contornar a situação. carlinhos se impacientava com meu jeito, sempre racionalizando demais as coisas, falava que eu parecia uma colegial, mas eu sou assim, e esse meu jeito vinha funcionando perfeitamente até então.

infelizmente, eu talvez já tivesse cometido um erro grande demais.

explico: alguns dias antes, eu havia me aproximado da carol, iniciado uma relação. oferecia a ela todo o meu encanto e carisma, em troca apenas de estar perto dela, esperando que mais cedo ou mais tarde ela me notasse, você sabe, como homem, não só como amigo.

tudo bem, eu sou um tanto piegas, confesso. dei até flores à guria. mas o erro não foi esse. na verdade, ela parecia até gostar disso. o erro foi ter tentado beijá-la, de surpresa, durante uma festa em que eu a havia levado. quando ela aceitou a carona, cometi o engano de pensar que aquilo era um encontro, de que éramos um casal. bem, não éramos. se havíamos de ser qualquer coisa, seria um trio, já que ela tratou de deixar claro que o problema era a dani.

e foi assim que me voltei a carlinhos. é claro que eu tinha medo de envolver qualquer homem na jogada, principalmente um jogador experiente quanto carlinhos, mas você tem de entender, eu estava desesperado.

algum tempo depois, nossos planos deram certo. de alguma forma, eu não podia acreditar que aquilo havia funcionado. no entanto, só fui me dar conta alguns dias depois, quando vi ambos, carlinhos e carol, entrando de mãos dadas pela porta do curso. era o casal mais odioso que eu já vira. tratei tudo com normalidade, mas não tenho falado com carlinhos desde então.

o caso é que o plano deu certo. mas não o nosso plano, e sim o do filho duma puta do carlinhos. e carol, pobre coitada, nunca teve a chance de ver o perigo rondando. eu havia tirado sua atenção do verdadeiro predador à sua volta. na verdade, eu a havia colocado em sua mira.

por que nunca cheguei às vias de fato com aquele cuzão de marca maior também conhecido carinhosamente como carlinhos?

oras, porque imagino que, de alguma forma, ele também não tem culpa. utilizou-se das armas e táticas das quais dispunha, e o fez muito bem. não consigo não sentir uma ponta de admiração por alguém assim. isso sem falar no fato de que é impossível não se apaixonar por carol. engraçado, a amo até hoje, embora já tenha aprendido a guardar tal sentimento pra mim.

é, devo ser mesmo isso que você está pensando, o maior perdedor do planeta. pelo menos hoje em dia eu sou rico, futuro presidente de uma empresa de armazenamento e distribuição de cerâmicas venesianas para a fabricação de azulejos e vasos sanitários, com uma renda que chega a duzentos mil reais por ano, enquanto carlinhos está para ser pai aos 23 anos, ainda desempregado e morando com a mãe e carol tenha sido talvez a maior corna da qual nossa faculdade teve notícia nas últimas três décadas.

não odeio o amor, não é sua culpa.

afinal, é como se eu jogasse o jogo, fosse razoavelmente bom nele, mas, de alguma forma, nunca cheguei a ler as regras.

2 comentários:

Paulinha disse...

Tu escreveu o outro lado da moeda, foi? hahaha...Muito bom!! =D
Vc me dá certa inspiração pra continuar escrevendo no meu blog, sabia?
Keep on!
bjo!

Anônimo disse...

muito bom
continue escrevendo