sábado, 8 de setembro de 2007

sobre a felicidade

lucas era o príncipe e rei de seu próprio reino. seu reino era sua Vida. ele era juíz, júri, carrasco, povo, clero, nobreza e burguesia. era governante de si mesmo.
lucas era um garoto honrado, nobre até, um grande amigo. sua vida caminhava segundo sua própria vontade. infelizmente, nem tudo é perfeito. apesar de possuir inúmeros amigos verdadeiros, estes não podiam deixar de vê-lo como alguém um tanto ignorante. nas rodas de conversas, ele nunca sabia as últimas novidades ou havia lidos as mais novas críticas culturais/políticas/econômicas. mesmo assim, sua ausência, quando ocorria, era fortemente sentida no grupo.
não escolhia seus livros por ordem dos mais respeitados críticos literários, mas sim pelas suas palavras. não ouvia canções de bandas porque haviam vendido o maior número de discos, ouvia cada acorde como se fosse único. não admirava os filmes pela sua bilheteria, se encantava realmente frame a frame. até mesmo as árvores que optava para se abrigar sob as folhas não seguiam padrões, eram escolhidas puramente por sua beleza ou pela qualidade do ar que liberavam. as garotas com quem saía muitas vezes não agradavam esteticamente a todos de seu grupo, afinal, não era o sexo que procurava, mas a satisfação de encontrar alguém com quem pudesse se sentir feliz, verdadeiramente feliz, nem que apenas por um segundo.
enfim, sua vida, seu reino, não eram compreendidos por aqueles a quem se pode chamar de seus amigos. de qualquer forma, ele era incapaz de perceber a estranheza que provocava entre seus conhecidos. talvez fosse exatamente por isso que lucas era o mais realizado de todos. talvez, isso nem mesmo ele sabia. nem mesmo eu, que tenho me mantido na humilde posição de locutor em terceira pessoa até agora e me vejo obrigado a tomar a posição da primeira pessoa, posso dizer se lucas era ciente de sua própria ignorância, sua felicidade.
digo apenas que ainda tenho a honra de conhecer lucas, um jovem que caminha incompreendido pelas ruas, com a cabeça erguida, sustentada pela sabedoria do seu conhecimento de absolutamente nada.