quinta-feira, 13 de setembro de 2007

sobre feriados

a vida segue normalmente. todo dia a neura de seguir a rotina nos abate implacavelmente.
acordar, estudar, andar, jogar, sonhar, ganhar, exercitar, trabalhar, lutar, respirar, digitar, correr, viver, perder, acender, morder, ser, sentir, dirigir, fingir, atingir, parir, fugir.

fugir. fugir finalmente para longe, para todo o sempre, nem que por apenas um minuto. é importante que no meio do caos da rotina consiga-se fugir. ou isso, ou ficamos loucos. fugir num feriado, reunindo os amigos para aquela escapada que nos garantirá a sanidade ao mesmo tempo em que a anula. fugir para longe, para o meio do mato se possível. se não for possível, para um sítio distante de todo esse ambiente urbano que nos afaga e nos sufoca.

em carros, guiando pela estrada, se pode sentir o momento exato em que já não se é tanto um só, mas se é todos. em que todos querem apenas abstrair a vida, vivendo aquele momento insandecidamente embebido em álcool, de preferência.
lá chegando, é importante constatar a total ausência de água pela casa, até mesmo na piscina. também se deve sair para comprar gelo, afinal a geladeira com a qual todos contavam, inexiste. por fim, coloca-se a cerveja num imenso balde para gelar, quem sabe assim a noite começa.
e começa. logo as brincadeiras têm início e o nível de sangue na corrente alcoólica de todos baixa drasticamente.
sete e múltiplos de sete. catorze! lá se vai a primeira dose de vodka. 56 é múltiplo de 7? é! então bebe.
as perguntas correm soltas, não se pode respondê-las. a cada pergunta emenda-se uma nova, é isso? isso mesmo...xiii. bebe!
há sempre aquele que resolve pegar no pé de alguém, principalmente se isso puder causar o maior mal-estar possível. felizmente, a benvinda ebriedade já chegou há tempos e se juntou ao grupo. ninguém liga.
todos gritam e falam simultaneamente. todos se escutam e ninguém se ouve, ao mesmo tempo que a música vinda do porta-malas de um dos veículos atinge seu máximo volume.
finalmente, alguem obtém o privilegio de ter a prioridade sobre o último gole de vodka.
sirenes na porta e a convidada temida mas indispensável se mostra presente. pelo menos, sua presença é passageira e a polícia vai embora depois de pegar todos os dados de uma das poucas que conseguiu a proeza de se manter razoavelmente sóbria. isso no portão, pois lá nos fundos o grupo de bêbados tenta um improvisado jogo de queimada, com latinhas amassadas demarcando territórios.
sob a ameaça de uma agradável noite na prisão, todos entram à casa e começam um jogo de regras complexamente simples, no qual quem fizer o primeiro par de três cartas vence.
o sono finalmente começa a ganhar força e deposita seu peso sobre as pálpebras de alguns. os que resistem, decidem ir à cidade, para o maior rodeio minúsculo de uma pequena metrópole rural.
no dia seguinte, o tom é o mesmo, acrescido do calor trazido pelo sol tão brilhante. mais cerveja e gelo, por favor. a piscina vazia ri da cara de todos e a piscina do vizinho, tão limpa e reluzente, olha só, sorri. o carrasco solar aflige, e não se vê outra saída a não ser procurar refúgio sob as águas contidas passando o muro da casa ao lado.
o líquido transparente voa para o espaço a medida em que os corpos furtivamente mergulham, procurando fazer o maior barulho possível no meio do silêncio obrigatório de quem está fazendo algo ilícito.
como saco vazio não pára em pé e nem alça vôo sobre as savanas, todos se fartam com o maldito pão seco abençoado pelas fatias sagradas da mortadela. jesus cristo, aquele que se sacrificou pelos nossos pecados, está lá e, com sua estatura modesta, grita a plenos pulmões que a esbórnia não é mais loucura, é esparta.
vencido o calor, uma nova brincadeira é iniciada. resolvem brincar de carrinho. mas deus me perdoe se forem carrinhos daqueles da infância. agora são todos automotores puxados por cavalos nem sempre muito potentes. um dos jovens que, coitado, ainda nem mesmo conhece as belezas bíblicas carnais, perde sua virgindade (apenas aquela atrás do volante) e mostra mais habilidade até mesmo do que aqueles que já suaram para comprar suas habilitações.
finalmente, não se tolera mais a fome e uma última incursão à cidade é indispensável. vestidos a caráter, invadem as ruas causando espanto na irriquieta população local. uma pizzaria é agraciada com a sua presença. na telinha da tv, a seleção brasileira de futebol dá show em cima dos estadunidenses. três pizzas e duas cocas depois, a santa ceia se encerra e é necessário começar a articular a partida.
a casa lavada com o pouco d'água contido no tanque, o sono espantado após uma bela soneca e todos estão em seus assentos novamente. o destino é são paulo. o destino é suas próprias vidas, marcadas com o que vier pela frente.
infelizmente, nada é certo e este grupo irá se separar. um deles irá partir para o outro lado do globo em breve e esta foi uma mais que merecida despedida. separados, mas unidos para sempre, pois, mesmo que a memória falhe com os amores e o coração se esqueça das lembranças, ainda terão, gravados para sempre, os filmes desta incrível família que se formou em tão pouco tempo.
e eu, tão humildemente que vos falo, tenho orgulho e me sinto honrado de poder dizer que faço parte dela.

acredito que existem dois tipos de pessoa neste mundo: as que existem e as que vivem. as que existem se prendem às suas vidinhas tranqüilas, recatadas e retilínias. sua maior preocupação é se a salada será de tomate ou se seria ousadia demais colocar também algumas folhas de alface. as que vivem têm formas indefinidas que inundam suas vidas. em suas biografias, contradições, antíteses e paradoxos jorrariam das páginas e agarrariam o leitor pelo colarinho, agitando-o de tal maneira que ele mal veria a hora para ter o mesmo. enormes trechos de páginas em branco, como que redigidas por um escritor ébrio e são, que teve tempo para expressar as pausas que infestam suas vidas. na capa, estampados em letras garrafais estariam os dizeres: amor e saudade. talvez esta fosse a única parte do livro que não entraria em conflito consigo mesma. isso porque a saudade é a forma mais leve e carregada do amor sadio. na contracapa, uma única ilustração. a de uma mochila de viagem totalmente carregada de experiências, boas e más, deixada para trás após uma vida completa.

enfim, o que seria da vida sem suas pausas e suas contradições? acima de tudo, o que seria da vida sem a saudade?



*este texto é dedicado a todos que estiveram no infame sítio em boituva. obrigado por campartilharem tantos momentos juntos. e, mayara, que sua viagem seja tudo o que você quer, e tudo aquilo que nós mais lhe desejamos.

9 comentários:

Anderson disse...

"a esbórnia não é mais loucura, é esparta." Frase perfeita, diz mil coisas em poucas palavras.

Nossa, imagina quando você tiver uns 45 anos, provavelmente não conseguirei ler seus textos, PARABENS!

Unknown disse...

Sem palavras....
Escreve mtu...
gostei.. vo ser um leitor continuo desse blog...

abs

Anônimo disse...

O que eu posso dizer pra voc�?
POHA � o melhor texto sobre a nossa viagem que eu conseguiria imaginar.
Me fez at� chorar, fdp!

Ent�o... "Separados mas unidos pra sempre"
� isso ae....
s� por um tempinho eu estarei longe como pessoa f�sica... Porque eu estarei sempre perto, nas zueras, nas brincadeiras, nas viagens, em tudo... Porque nossa fam�lia � pra sempre... e o carinho que eu sinto por cada um de voc�s � eterno e isso n�o ter fronteiras no Globo!

Amo demais...
Gosto demais dessa fam�lia!

Beijos
E fiquem com Deus... Ou melhor... Com Jesus

Anônimo disse...

O que eu posso dizer a você?
Só uma palavra...

Obrigada.

Obrigada por terem me mostrado a real amizade...
"Aquela que a distancia não distroi"
Pelo menos é isso que eu estou torcendo...
Vamos ver ne...

Amo demais...
Vai ser sempre amor, mesmo que mude!

Fiquem com Deus...
E juizo...

Unknown disse...

meu amigo jaime, coitado dos futuros escritores ou daqueles que vão concorrer com vc para a vaga de jornalismo, pois concerteza vc será um dos nomes mais conhecidos da literatura brasileira.

jaime soto, marquem esse nome.

parabens meu velho, eu nunca duvidei do seu talento.

Unknown disse...

César você e um poeta descreveu nossa viagem muito bem não poderia ser mais perfeita um abraço Jesus ou Sardinha...

Gabriela disse...

eu acho que n�o preciso nem falar nada, n�?
mesmo n�o fazendo parte deste dia e de tudo mais, quase chorei lendo isso.
e super fa�o das palavras do windows as minhas: "coitado dos futuros escritores ou daqueles que v�o concorrer com vc para a vaga de jornalismo (...)"

ainda bem que n�o vou prestar no mesmo ano que voc� :P haha, brincadeira.
tinha que ser meu pai, t�o querido amigo, se n�o o melhor. tenho orgulho quando leio essas coisas que voc� escreve, de verdade.

bom,
eu te amo (s� pra n�o perder o costume de dizer.)
beijos.

Maitê disse...

Ahhh falta eu comentar aki!!
burra deixei scrapinho!!
mais tah valendo! jah disse foda demais o texto!! ^^
vc eh o cara cesinha!hauhau
ohhh todos flando mto bem da pessoa com o shorts comendo a bundinha!! ^^

grd bjo... a dona do sitio!!
em otimas condições!!

Unknown disse...

"JESUS ESTA NO MEIO DE NÓS"