segunda-feira, 22 de agosto de 2011

sobre o acordar

existem sonhos que fazem jus ao nome. são aqueles nos quais você consegue tudo o que sempre quis. quando percebe, foi promovido; comprou seu primeiro apartamento; falou mais uma vez com o avô, há muito falecido; ficou, finalmente, com a garota. sonhos que, mais cedo ou mais tarde, mostram ser o que são por serem bons demais. mesmo assim, você se apega a eles, estabelecendo o acordo não oficial de fingir que não sabe ser sonho, e ele fingindo que não sabe que você sabe. continuam todos, assim, felizes em sua ignorância.

no entanto, a vida é geniosa e não suporta ser trocada assim tão fácil por algo que nem existe fora de nossas cabeças, jogando algo para nos tirar daquele estado inconsciente. em algumas vezes o despertador toca, em outras, sua mãe bate à porta e avisa que é hora de levantar. você, claro, não desiste assim tão fácil. enfia a cabeça debaixo do travesseiro, puxa as cobertas e tenta, apertando os olhos de tal maneira que eles poderiam jamais abrir novamente de tão forte, voltar àquela realidade irreal. mesmo sabendo que na maioria das vezes ela não volta. situações estas que se repetem tantas vezes ao longo de nossa existência que acabamos nos acostumando.

contudo, se tivermos sorte, em algum momento chegamos a conhecer o aconchego de um sonho neste mundo aqui de fora, vivendo todos os dias em um estado aparentemente perpétuo de plenitude, podendo até mesmo fazer pouco de tamanha graça. nestas horas, ignoramos que este é um universo paralelo cujo fim já estava estabelecido em seu começo. e assim dá-se continuidade àquele acordo, ninguém me belisque pra saber se é verdade.

como todo sonho, no entanto, o amanhecer não tarda a chegar e a vida, invejosa, tem pressa de continuar. você pode lutar, pode se debater e enfiar a cabeça debaixo do travesseiro, tentando voltar àquela irrealidade arredia. mais cedo ou mais tarde, não importando o que faça, acaba por se aceitar o inevitável. resta, então, apenas deixá-la partir, como tantas outras antes. mesmo sabendo que, dessa vez, toda vez em que se deitar, rezará calado para que ela volte.

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