sábado, 8 de agosto de 2009

sobre o que sempre existirá

sempre existirão garotas que se interessarão por caras exclusivamente por causa de seus carros.

e sempre existirão caras que sabem que seus carros lhes ajudam com essas garotas.

a relação homem/mulher/veículo automotor se vê coberta por uma sombra nefasta. não me entendam mal. essa relação sempre existirá, assim como sempre existiu. no entanto, a modificação e, talvez, modernização dos carros nos últimos anos acabou com uma das maiores lembranças que uma pessoa poderia ter em vida: a de saber e até mesmo conhecer o carro em que foi concebido.

carros que duram anos e anos a fio não existem há, pelo menos, uns 20 anos. ou seja, há toda uma geração, talvez até mesmo duas, que não conhece aquele canto especial no banco traseiro em que, um dia, papai e mamãe se envolveram com tamanho fervor que acabaram por selar uma relação eterna.

sim, caros amigos, houve uma época mais feliz, uma época mais simples, em que os recreios eram momentos de discussões como:

- papai disse que eu fui feito na nossa brasília.

- sério? eu fui feito num gurgel.

- e eu numa mercedes.

- caramba! teu pai era rico?

- não. motorista...

- ah!...

- ...de ônibus.

hoje em dia, não podemos mais testemunhar uma conversa tão pura e, ao mesmo tempo, tão reveladora. quem tem o pai cujo carro está na família há mais de três anos? desvalorização no mercado, flutuações cambiais, modelos 2000, quintas gerações e, acima de tudo, motores vagabundos são os principais motivadores da perda de nosso passado.

pertencemos, meus caros, a uma geração sem ninho, sem um carro-natal, sem uma kombi para para chamar de sua. até hoje, gosto de imaginar que sou fruto daquele uno que me lembro ter andado um dia. enfim, creio que nunca saberei com certeza. sei que nem mesmo meus pais poderão se lembrar qual carro tinham na época. não com tantos kadets, monzas, kas e derivados no caminho a enevoar as memórias.

mesmo assim, se ficarmos no mais absoluto silêncio e aguçarmos bem a audição, poderemos ouvir uma camisinha estourando no banco de trás de algum 206 por aí. lutemos para não ficarmos tristes por mais um que não conhecerá suas origens.

sim, sempre existirão os carros para facilitar a aproximação de interesses entre os sexos. só não existe mais aquele pedaço de passado que tanto alegrou a nossos pais e avós em outros tempos.

aprofundando um pouco e distorcendo um tanto mais, pode-se dizer que, por desconhecermos nosso passado, perdemos um pouco também de nosso futuro. mas talvez isso seja ir um pouco longe demais.

é, isso com certeza seria ir longe demais. honremos os bancos traseiros, então. e respeitemos as caronas.

3 comentários:

Gabriela disse...

putaquepariu, eu amei esse! :) um grande ode aos bancos traseiros, por favor!

um beijo, pai.
(eu podia perguntar em que carro eu fui concebida, mas achei mancada!)

Maitê disse...

Ahhh.. se os carros falassem! =X
auhhauhuhahau

Disk Vegetariano Praia Grande disse...

Puxa, vou tomar isto como um elogio ao velho Del Rey, meu inesquecível banheirão!

Aliás, como informação adicional para seus futuros biografos, em 1988 nós tínhamos uma Variant 72...