terça-feira, 19 de maio de 2009

sobre o maior dos clubes

"tenho um namorado". - foi o que ela me disse, ao se levantar e me dar um leve beijo, daqueles que não se sabe se é destinado aos lábios ou à bochecha.
e eu fiquei ali, observando-a partir, ligeiramente enraivaceido - enraivecido... eu tava é puto! - ao imaginar os sentimentos que ela poderia sustentar por um terceiro. quatro meses haviam se passado desde que eu a conhecera. três meses desde que eu havia percebido o quanto era linda. dois desde que reparara como seus olhos também brilhavam de forma fora do comum quando depositados sobre a minha pobre pessoa. um, um mês inteiro, desde que eu percebi que estava perdidamente apaixonado.
eu, um jogador, não por natureza, mas por formação; e estava lá, assistindo-a partir para talvez nunca mais voltar, incapaz de correr atrás dela e segurá-la.

num bar, dois amigos discutiam já brevemente embriagados. o mais velho parecia sê-lo ainda mais do que realmente era; e o mais jovem fingindo ser mais experiente do que a realidade, talvez apenas para enganar ao colega de cerveja, talvez mentindo para si mesmo.
discutiam, como invariavelmente essas situações de dois amigos conversando ebriamente em um bar acabam, sobre mulheres.
ambos já haviam sofrido sua cota de desilusões e alegrias, de rejeições e felicidades, mas, acima de tudo, ambos estavam absolutamente na merda.
talvez você já tenha lido um livro de stephen king chamado "a coisa", talvez não tenha. o que importa saber sobre esta obra é que é protagonizada por um grupo de jovens párias da sociedade, auto-intitulados "clube dos perdedores".
senhoras e senhores, apresento a vocês, aqui, nesta mesa de bar, o verdadeiro clube dos perdedores. ainda haverão de inventar algo que combine mais com um clube de perdedores do que ser constituído de apenas duas pessoas. há quem discuta que, melhor do que serem chamados de clube, talvez devessem receber a alcunha de dupla.
sim, dupla de perdedores.
no entanto, e aqui ambos podem testemunhar a seus favores, os dois eram tão extremamente perdedores que suas experiências poderiam encher a vida de mais meia dúzia de indivíduos. assim, temos aqui novamente formado o clube dos perdedores.

"costeletas, velho. o cara tem costeletas!" - dizia entusiasmadamente um deles, ou melhor, bradava. se lamentava por ter sido, de acordo com uma lógica só sua, trocado por um sujeito que cultivava uma quantidade um tanto obscena de pêlos nas extremidades das bochechas.
"ela tem um namorado, bicho. depois de tudo o que passamos, ela tem uma porra de um namorado" - respondia o outro. talvez não respondia, mas relatava, sem se importar muito com as lamúrias do companheiro.
para os não muito vividos entre mesas de bar, principalmente neste estágio de bebedeira, poderia parecer que os dois contavam suas próprias histórias sem dar muita importância para o que o outro dizia. chegaria um observador a tal conclusão e não poderia estar mais enganado. é assim que funciona a dinâmica do clube dos perdedores. problemas e contos são jogados ao ar de forma aparentemente aleatória, e a conversa não segue necessariamente uma linha de raciocínio que uma mente comum conseguiria acompanhar. o que não significa, de forma alguma, que um não está prestando a mais profunda atenção no outro.
conforme os relatos vão se aprofundando, tomando forma, se solidificando, a competição se acerra. sim, pois um compete com o outro pelo título de maior dos perdedores.
a essa altura, a cerveja já foi esquecida, e são depositadas na frente de ambos doses cavalares de whisky.

"e teve aquela vez que eu, por medo de terminar, falei pra ela que tinha ficado com sua melhor amiga. o resultado foi melhor do que eu havia planejado. a gente não se fala até hoje..."

"isso porque tu nunca deu um soco na cara do pai dela, meu velho. teve uma vez que o velho entrou e ela tava chorando, daí começou a falar um monte pra mim... não tive dúvidas..."

"tá, e o vaso passou raspando na minha cabeça. eu gritei 'tá louca, sua vaca!?' e saí batendo a porta..."

"ela ficava falando dos ex dela. mandei tomar no cu, mas agora acho que eu deveria ter sido mais paciente..."

"falei 'vanessa', bicho. VANESSA! daí a samantha ficou olhando pra mim e, quando eu vi, tava me estapeando e ameaçando morder o..."

"e eu to lá, olhando pra baixo, rezando a deus que um milagre enverta a porra da força da gravidade e tudo o que tá caído, suba..."

conforme a madrugada vai clareando, fica claro que a disputa terá de ser decidida um outro dia. mais leves e relaxados, nosso clube dos perdedores formado por dois dos mais exemplares espécimes da humanidade já paridos se levanta, encerrando esta sessão. apoiados entre si, com pernas cambaleando para todos os lados, ambos se dirigem para o carro.

sei que, em tempos de lei seca e o caramba, este não é o final mais politicamente correto para qualquer história, mas essa é a minha verdade e eu ficarei com ela.

2 comentários:

Anderson disse...

Jurooooo que tento entender =]

V L O disse...

ótimo texto, pena que baseado no loseranismo alheio. beijo querido!